Turquia - 9° dia - Excursão pelo Bósforo


Depois de passar alguns dias acordando inumanamente cedo e tendo que fazer as malas todo dia de manhã, finalmente acordamos num horário razoável, programados para sair às 8h da manhã numa excursão de um dia pelo Bósforo.

Como em todas as excursões, primeiro o guia faz diversas paradas em diversos hotéis para pegar todos os turistas participantes, e enquanto fazia isso ele aproveitou para falar sobre a vida dos sultões na época do Império Otomano.

A nossa primeira parada seria, na verdade, o Bazar das Especiarias, conhecido também como Bazar Egípcio, que é menor do que o Grande Bazar, e, adivinha, é especializado em especiarias e artigos relacionados (perfumes, essências, temperos, comidas em geral e, claro, quinquilharias). O Bazar foi construído do lado da Mesquita Nova, e data do século XVII, e ganhou o nome Egípcio porque foi construído com receitas vindas do Egito. Ali vale à pena visitar a parte de dentro do Bazar, que é linda, extremamente colorida e com um cheiro estonteante (de bom!!!), porém, se a sua idéia é fazer compras por um bom preço, faça-as do lado de fora, onde tudo é mais barato, e mais confuso também, com alguma probabilidade dos vendedores só falarem turco.

bancada "básica" de chás
As lojas são dividas meio que por temas, tem lojas só de doces, outras só de ervas e chás, outras só de temperos. Acabamos por visitar algumas, comprando uma quantidade absurda de chá (tenho chá para alguns anos em casa agora), algumas castanhas, doces e essências (adoro um cheirinho). A loja de essências que visitamos também vendia chás, o que facilitou muito o regateio final com o vendedor. Aliás, aquela loja foi uma visita à parte, pois ficamos muito tempo batendo papo com o vendedor, que era muito simpático, e dava para ver como ele suava frio quando percebeu que eu é que estava negociando. Ah, sim, na Turquia na maioria das vezes a mulher escolhe o que ela quer levar e depois o marido se encarrega de negociar o preço (isso acontece tanto com os turcos quanto com os estrangeiros), mas nesse caso o vendedor já conta com a venda, pois a mulher já decidiu o que ela quer. Só que não era esse o caso, e o vendedor ficou para morrer, e passou toda a negociação dizendo para o meu marido que ele tinha muita sorte comigo. Fica a dica, mulheres, negociem vocês mesmas! Só não se esqueçam de duas regras: se você aceitar levar alguma coisa, depois não pode desistir, eles ficam extremamente ofendidos. Se você disser que não quer levar, também é complicado mudar de idéia, eles não abaixam o preço se perceberem que você está só fazendo charme. O lance é manter o “poker face”.

prateleira de essências da tal loja onde ficamos muito tempo batendo papo
Depois de passar uma hora e meia nesse império dos sentidos, pegamos novamente o ônibus para atravessar a rua. É sério. Aparentemente o guia não podia atravessar a rua com o grupo inteiro. Do outro lado da rua ficava a marina, onde pegamos um barco para passear pelo Bósforo, uma excursão de mais uma hora e meia fazendo um ziguezague e vendo todos os pontos importantes desde o Chifre de Ouro. Acho que nesse ponto demos um certo azar com o nosso guia, que apesar de conhecer bem todos os pontos que chamavam atenção nas margens do Bósforo, às vezes mais parecia um corretor de imóveis. Era “casa de 1,5 milhão” pra cá, “casa de 3 milhões” pra lá... entremeadas de informações realmente interessantes, como a escola onde estudou o Ataturk, ruínas de uma fortaleza, casa onde atualmente fica a boate mais badalada da cidade e palácios importantes do governo e do Império Otomano. A mini-viagem em si é muito linda, as casas e a vista são desbundantes e valem muito a pena o passeio. Além de ser muito agradável, naquele calor forte de verão, um belo passeio de barco, com um bom vento refrescante. Falando em refrescante, outro ponto negativo é que no barco são oferecidas diversas bebidas, mas esquecem de te avisar que elas não são de graça.

A vista do passeio é deslembrante!
Depois do passeio, saltamos do lado europeu da cidade para almoçar num restaurante especializado em peixes, e peixes tivemos no almoço! Primeiro serviram diversas entradas: uma espécie de sardinha servida em forma de filés, arroz com mexilhão servido em conchas (como a nossa casquinha de siri), uma salada de frutos de mar, outra salada (essa mais “normal”, de pepino e tomate), mais uma salada de batatas com iogurte e especiarias e pão. Depois vieram outros tipos de comida quente, especialmente frituras: um tipo de pastel, uma coisa esquisita feita de batata, abobrinha frita e um feixe que parecia dourado, servido inteiro e grelhado. De sobremesa foi servido melancia. Claro que aproveitei para beber mais ayran, a bebida nacional turca, feita de iogurte salgado.

Depois do almoço, voltamos a pegar o ônibus e atravessamos para a parte asiática da cidade, para visitarmos o palácio de veraneio do sultão, chamado de Palácio Beylerbeyi. Claro que esse palácio é considerado pequeno, afinal ele é de veraneio, mas ainda é um palácio do sultão, e, portanto, ele tem “apenas” 24 quartos e salões, e apenas 6 banheiros, o que é uma grande vantagem com relação a qualquer palácio europeu, que nem banheiro tem, né? Os orientais sempre foram mais preocupados com a higiene. Um detalhe interessante sobre esse palácio é que ele não possui cozinha, porque o palácio original pegou fogo justamente na cozinha, e a sultana decidiu que não queria mais correr o risco.

única foto que consegui tirar dentro do palácio antes de ser repreendida
Infelizmente não é permitido tirar fotos dentro do palácio, mas ele segue um estilo bem mais moderno do que o Topkapi, com muito ouro, muitos detalhes e pinturas em estilo ocidental nas paredes. De uma forma geral, esse palácio é bem modernoso e ocidentalizado, já que ele foi construído em torno de 1860. E a visita vale a pena não só do ponto de vista arquitetônico, mas porque o palácio é praticamente um museu, recheado de objetos e mobiliário do mundo inteiro. Um detalhe importante sobre a visita: para entrar no Beylerbeyi é preciso estar acompanhado de um guia, e os horários de visita são extremamente restritos, praticamente com hora marcada, entrando apenas um número limitado de pessoas por vez, e um grupo só pode entrar depois que o grupo anterior tiver saído. Portanto, quem quiser visitar o palácio sozinho, tome cuidado e se prepare para ficar algum tempo passeando pelo jardim, esperando a sua vez para entrar. Mas não se desespere, o jardim é um passeio à parte, e é muito bonito também.

O jardim é muito agradável, e tem uma vista linda também
Depois do Palácio, a excursão nos levou a um lugar conhecido como Colina dos Namorados, que nada mais é do que um bistrô com uma vista muito bonita de Istambul. Em outras palavras, foi uma enxeção de lingüiça com vista, pois ficamos muito mais tempo do que o razoável por lá. Eu e o Caike aproveitamos para tomar um chá, eu pedi um quente e ele um frio.

vista da Colina dos Namorados
Voltando do tour, saltamos do ônibus na praça Taksim, pois queríamos aproveitar para trocar nossos euros por liras turcas, o que é muito fácil de fazer nessa região, que é cheia de casas de câmbio.

rotatória da Praça Taksim
Depois demos uma passada no nosso hotel para um pit-stop, e acabamos por encontrar o casal paulista simpático que nos acompanhou durante boa parte da viagem, e novamente trocamos impressões sobre o tour do Bósforo, onde concordamos que valia a pena, mas que podia ser melhor, especialmente se tivéssemos outro guia mais simpático e menos estilo corretor de imóveis.

Como já estava tarde para fazer um passeio distante, resolvemos passear pela rua mais famosa do bairro Taksim, que é uma espécie de “calçadão”, onde se encontram todos os tipos de loja que você pode imaginar, numa espécie de Saara de Istambul, só que muito mais chique e limpo, com direito a muitos barzinhos e restaurantes no meio do caminho. Além de muitas lojas de marca! Claro que eu aproveitei para fazer compras, porque não sou de ferro.

as lojas antigas são belíssimas por dentro!
Mas o passeio é interessante de uma forma não-consumista também, pois nessa rua passa um bonde daqueles antigos, de trilho e todo aberto, que nesse dia (provavelmente por conta do Ramadã) estava com convidados especiais: uma banda pop tocando ao vivo! As lojas são todas muito bonitas, e algumas ficam em prédios bem antigos, que vale a pena entrar só para dar uma olhada. E claro, tem o tradicional sorvete turco! Essa é uma atração à parte! Mesmo que você não goste de sorvete, compre um, porque é uma aventura! O vendedor de sorvete é um malabarista, e a graça dos seus truques é justamente sacanear o comprador, que tenta em vão ficar com o seu sorvete nas mãos. Como era Ramadã, quando chegamos ao vendedor de sorvete, a loja estava absolutamente vazia, pois ainda era dia, e, portanto, os turistas estavam evitando comer em público, já que a maior parte dos turcos é muçulmana, e por isso estavam jejuando até o pôr do sol. Só que estávamos com fome, e faltava muito pouco tempo para a noite cair, e decidimos pedir o tal sorvete (que por sinal também é muito gostoso), e o vendedor fez um show tão bonito que logo depois a fila para comprar sorvete ficou lotada.

o simpático bonde de Istambul
Também passeamos por um shopping imenso em busca de uma loja de eletrônicos indicada pelo casal paulista, que não nos agradou muito, porém quando estávamos saindo do shopping nos deparamos com um show de dervixes na porta! O Ramadã realmente é uma época interessante! Acabamos por jantar numa espécie de fast food de massas, que além de não ser fast, não era muito gostoso. Mas ficava ao lado de uma loja de chocolates que foi uma perdição!

O "calçadão" de Taksim a noite, completamente iluminado!
Já cansados e carregados de compras, finalmente voltamos ao hotel para dormir, pois o dia seguinte prometia ser muito mais animado e cansativo.

Turquia - 8° dia - Passeando de balão


Como eu disse anteriormente, para andar de balão é preciso acordar cedo, mas muito cedo mesmo! A saída do hotel estava marcada para 4:45h da madrugada (gente, tem vezes que eu vou dormir mais tarde do que isso!), isto quer dizer que eu acordei 4h, para tomar banho e fechar as malas, porque depois teríamos pouco tempo para isso, e nesse dia cairíamos novamente na estrada.

Uma van veio nos buscar juntamente com outros turistas que iriam subir ao céu naquela manhã. Por causa da hora, confesso que levei um casaco, porque achei que pudesse pegar um vento um pouco mais frio, o que foi uma decisão acertada, lá no alto realmente é mais fresco. Mas antes de chegarmos ao balão, fomos para uma espécie de central de visitantes, onde estava sendo servido uma tentativa ruim de café da manhã. A comida era ruim, o café e o pão eram frios... enfim, um desastre. Pelo menos deu para enganar um pouco a fome, que ainda estava dormindo.

Enquanto tomávamos o pseudo café da manhã tínhamos como vista os balões sendo preparados
Depois fomos levados para o nosso balão. E tinham diversos balões no local, todos em fases diferentes de preparação para a decolagem, o que foi muito interessante de ver. Depois de observar bem o processo, o nosso balão ficou pronto, nos separamos pelas diversas divisórias da cesta e alçamos vôo! Confesso que eu estava preocupada com o Caike, que tem um medo quase patológico de altura, mas a subida de balão é tão suave, mas tão suave que ele ficou muito tranqüilo.

Nosso balão quase pronto!
Início da subida com os demais balões
E o passeio é mesmo bonito, a vista da Capadócia é sensacional, com aquela paisagem tão diferente, com as rochas esburacadas, e o céu lotado de balões coloridos! Acho que valeu a pena a viagem. Porém, não foi o melhor passeio de balão que já fiz, pois acho que o passeio no Egito, em Luxor, é muito mais bonito. Não que a Capadócia não seja tão bonita, mas é porque essa região da Turquia é tão acidentada que podemos ter uma boa visão panorâmica da região no alto de suas “montanhas”, e ela é muito parecida com a vista do balão. Já no Egito, que é praticamente plano, você só consegue ter uma boa visão panorâmica de balão, o que deixa o passeio muito mais bonito e surpreendente. Em compensação, os baloeiros turcos gostam de acrescentar um pouco de emoção à viagem, pois eles fazem os balões passarem bem pertinho das rochas, de forma que você tem a sensação de que se esticar o braço poderá até encostar nelas!

Uma vista diferente com participação especial do nosso baloeiro!
A vista fica assim, cheia de balões! Repare como eles voam baixo também!
Mas o passeio em si é muito tranqüilo, o Caike só ficou realmente nervoso quando subimos além das rochas e fomos bem alto, quando a vista fica realmente diferente, parecida com a de um avião em estágio de descida. E no Egito essa vista ainda é mais bonita, por conta do contraste do Nilo, suas margens cultivadas e o deserto – azul, verde e dourado, enquanto na Capadócia essa visão é predominantemente cinza.

Um dos pontos altos do passeio, literalmente
E começamos a descer!
Depois de quase matar o Caike do coração, finalmente começamos a descer, e eu aprendi como se pousa de balão. Depois de ter sofrido uma aterrissagem de emergência em Luxor (que eu descobri só depois que tinha sido um acidente), aprendi que o balão pousa de forma bem suave e gentil, e já em cima da caçamba do mini-caminhão que transporta a cesta. É tão suave que para pousar mesmo e prender a cesta na caçamba é preciso que diversos homens que estão em terra se dependurem no balão para fazê-lo descer.

E voltamos à terra firme!
Fomos recebidos em terra com espumante e uma espécie de certificado de que voamos de balão, o que foi muito simpático. Aproveitamos para também tirar fotos com o nosso baloeiro.

Espumante com direito à vista!
Nosso baloeiro entregando os certificados!
Depois a van que acompanhava a equipe de “resgate” do balão nos levou de volta para o hotel, onde finalmente tomamos um café da manhã digno (mais do que digno, já que o hotel da Capadócia era chique demais), terminamos de fechar as malas e trocamos de roupa (o passeio de balão te deixa coberto de poeira da cabeça aos pés, é uma loucura).

Às 9h fomos nos encontrar com o nosso ônibus de viagem, e nos juntar com os demais turistas da nossa excursão que ficaram em outros hotéis. Como estávamos a caminho de Ancara, que fica bem longe, fizemos 3 paradas técnicas no percurso. A primeira foi bem sem graça e aproveitei para dormir no ônibus, saindo apenas para ir ao banheiro, na segunda paramos para almoçar, e como nossos neurônios ainda estavam dormindo, exageramos feio na quantidade de comida que pedimos, pois além de dois pidês (tipo de pizza num formato inusitado) pedimos também um prato que lembrava uma mistura de pastel com crepe, um para cada um de nós! Quando metade da comida chegou tentamos cancelar o pedido dos demais pratos, mas o garçom se recusou a entender o que queríamos dizer e acabamos por desistir de discutir e nos entupimos de comida, e mesmo assim sobrou muita coisa. Mas a terceira parada é que foi bacana! Paramos num caravançarai modernizado muito bonitinho! Com direito a diversas cadeiras e almofadas para descansar, e as onipresentes lojinhas de souvenires.

Caike no caravançarai modernizado
E finalmente chegamos à Ancara, a capital da Turquia! Ancara é uma cidade muito grande, mas não tanto quanto Istambul, para comparar, pense que Ancara equivale a Brasília, enquanto Istambul é São Paulo. Inclusive as razões para mudar a capital para essa cidade foram exatamente as mesmas usadas pelo JK e a situação era muito parecida também, pois Ancara era uma cidadezinha do interior sem estrutura nenhuma. A desvantagem dos turcos é que eles não tinham o Niemeyer. A desvantagem brasileira é que não temos tantos sítios arqueológicos para montar um museu como o de Ancara. Como a Turquia e o Brasil são realmente parecidos!

A nossa estadia em Ancara seria curta, apenas uma tarde, mas não deixamos de visitar o Museu Arqueológico da cidade, que é recheado de relíquias do mundo antigo, incluindo uma linda sessão de peças e frisos Hititas (um dos povos que estavam sempre disputando territórios com os antigos egípcios, como você pode ler na série Ramsés), além de peças extremamente antigas que remontam ao tempo em que os deuses cultuados na região eram mulheres, e mostram as mudanças da religiosidade na região. Enfim, o Museu é uma maravilha para se passar horas visitando com calma, e olha que quando chegamos lá metade do museu estava fechado para reformas! Foi uma pena que quando a guia perguntou sobre o tempo que o pessoal queria ficar visitando o museu, a maioria das pessoas simplesmente não se interessava pelo assunto, e ficamos com muito pouco tempo livre para ver a belíssima exposição. Mas a visita não deixou de ser emocionante, pois aproveitamos que esse seria o último dia em que o grupo estaria todo junto e com a nossa maravilhosa guia Tina, e escolhemos o momento anterior à visita ao museu para fazermos uma homenagem a ela e entregarmos a caixinha que tínhamos juntado entre os participantes da excursão. E foi uma homenagem muito linda mesmo, a Tina e diversas outras pessoas acabaram com os olhos cheios de lágrimas.

Uma das mais antigas estátuas da Deusa!
Restos mortais supostamente do Rei Midas! Aquele lesmo da lenda, que transformava tudo o que tocava em ouro!
Baixo relevo hitita
Com a nossa maravilhosa guia Tina!
Saindo do Museu Arqueológico fomos visitar outro grande marco da cidade: o Mausoléu de Ataturk. O engraçado dessa visita é como é feita a segurança do Mausoléu: para evitar a entrada de possíveis vândalos os militares exigem que todos passem pelo detector de metais, só que para isso você sai do ônibus, e depois volta a subir no ônibus, que não é revistado. Gente, quando eu disse que a Turquia é o Brasil eu não estava exagerando! Foi preciso muito autocontrole para não rir durante a “revista”. Mas, enfim, o Mausoléu foi inaugurado em 1953, 15 anos depois da morte de Mustafa Kemal Ataturk, o grande fundador da Turquia Moderna. Sua arquitetura foi definida através de um concurso, onde a melhor proposta foi do professor Emin Onat, que se inspirou na história da Turquia. Como uma grande enciclopédia em pedra, o Mausoléu foi construído com pedras trazidas de diversas regiões do país, representando a devoção do povo ao fundador da república. Para representar as diversas fases da história do país, o conjunto arquitetônico possui elementos da arquitetura grega, otomana e seljúcida (muçulmanos que invadiram a Turquia antes dos otomanos), baixo relevo de estilo hitita e mosaicos (elemento comum na arquitetura romana) que retratam desenhos comuns na tapeçaria turca. Para completar, o Mausoléu tem proporções gigantescas! Maior do que uns 3 ou 4 campos de futebol.

Os relevos de estilo hitita ao fundo
Os mosaicos no teto
Para ter uma ideia da grandiosidade do lugar...
Saindo do Mausoléu, nossa guia nos levou até o aeroporto de Ancara, que é muito grande e bem organizado. Porém, os atendentes nem sempre falam um inglês perfeito, e muitos dos turistas não falavam inglês também. Resultado: algumas das mulheres que viajavam no nosso grupo tiveram as suas malas despachadas direto para o Brasil, ao invés de Istambul, onde, como nós, elas ficariam alguns dias antes de voltar. E isso porque elas não quiseram ajuda da guia, que estava ajudando aqueles que não falavam inglês nos guichês.

Despachadas as malas, enquanto aguardávamos o nosso vôo, bateu aquela fome, e fui descobrir um petisco turco que nunca imaginei que fosse encontrar: milho cozido! Sim, só que diferentemente das nossas carrocinhas, o milho lá é servido fora da espiga, num copinho que você pode escolher o tamanho, e também o tempero! Aí é que começam as estranhices, pois até tempero doce você pode colocar no seu milho! Eu escolhi algo bem tranqüilo: manteiga e sal. Ficou maravilhoso.

O vôo de volta à Istambul foi muito tranqüilo e rápido, apesar da mesa da minha poltrona estar quebrada, isto é, ela não ficava recolhida. Ainda bem que os comissários de bordo sabiam disso e ninguém veio encher o saco para dizer que eu tinha que recolher a tal mesa.

Infelizmente só quando chegamos em Istambul é que fomos descobrir o tal problema das malas das outras brasileiras, o que nos custou uma longa espera até o problema ser comunicado à empresa aérea, que garantiu que levaria as bagagens para suas donas assim que elas retornassem a Istambul no dia seguinte. Confesso que fiquei com pena, mas também foi muito chato ficar lá esperando isso ser resolvido.

Finalmente de volta a essa linda cidade, e ao nosso hotel (o mesmo que ficamos quando chegamos na Turquia), guardamos nossas malas no novo quarto e resolvemos jantar no restaurante do próprio hotel, pois estávamos exaustos! Para variar, pedi um kebab de cordeiro com pão pita, que infelizmente veio picante, mas deu para comer bem porque pedi um ayran para acompanhar, e o iogurte cortou bem a pimenta.

O jantar temperado com muita pimenta e sono!
Depois do jantar fomos descobrir o verdadeiro sentido da palavra capotar de sono. E precisávamos descansar mesmo, pois ainda tínhamos que desvendar os mistérios de Istambul!

Turquia - 7° dia - Capadócia


Acordamos no nosso hotel maravilhoso com a vista cheia de balões... se a vista já era linda antes, com os balões ficou ainda mais mágica! O café da manhã estava simplesmente perfeito, sem dúvida o melhor da viagem em termos de variedade e qualidade da comida! E nós precisávamos de muita energia!

Vista do hotel com os balões
Esse dia foi totalmente dedicado a conhecer a Capadócia. Acordamos bem cedo para sermos os primeiros a chegar no Museu a Céu Aberto de Göreme. Mais tarde viemos a descobrir que chegar cedo também significa pegar bem menos sol e calor...

A Capadócia é uma região com uma paisagem única e com uma cara meio lunar... com suas rochas de origem vulcânica extremamente macias, o que as tornam fáceis de deformar pelos ventos ao longo do tempo, por isso o perfil da paisagem é realmente muito diferente. Além disso, suas rochas e solo foram usadas durante muitos séculos para escavar casas e até cidades inteiras. Göreme é uma dessas cidades!

As rochas "esburacadas" de Göreme
Criada por uma leva dos primeiros cristãos, que procuravam viver de forma monástica e eremita, pelos idos do século III, eles aproveitaram algumas construções já existentes e fizeram muitas novas, incluindo diversas igrejas, criando um grande complexo de cavernas.

A visita é um pouco cansativa, pois os quartos e igrejas ficam espalhados pelas rochas, como se fossem mini-montanhas, e durante o passeio se sobe e desce um monte de ladeiras e escadas!

Mas vale a pena cada gotinha de suor, pois o lugar é muito lindo e exótico! As igrejas são todas lindas e muito diferentes do que você poderia imaginar de igrejas em cavernas. Primeiro, elas são inteiramente escavadas, mas isso não as impede de ter colunas! Segundo, são todas lindamente pintadas por dentro! E o mais interessante, em algumas delas existem 2 camadas de pintura, pois a primeira camada decorativa, datada do início da ocupação de Göreme, era muito simples e limitada, e até o final do século XIII, novos afrescos, bem mais complexos, foram pintados por cima, e novas igrejas também foram construídas até o final desse período.

O único porém é que não podemos tirar fotos no interior das igrejas, nem sem flash :-(

No interior das igrejas não pode, mas algumas desabaram parcialmente e podemos ver as pinturas expostas!
Algumas igrejas também estão um pouco depredadas, pois depois que os cristãos abandonaram a região, os muçulmanos que chegaram depois simplesmente não entendiam o que eram aqueles afrescos, e alguns mais radicais tentaram até mesmo destruí-los (lembrem que para o islamismo a representação de criações de Deus, incluindo seres humanos, é vista como heresia). Isso também explica os nomes dados às igrejas: igreja da maçã, da sandália... pois os moradores do local não reconheciam os santos nem as imagens!

Depois de começar a sentir o calor que é capaz de fazer na Capadócia, fomos fazer outro passeio exótico: conhecer uma cidade subterrânea!

Como mencionei anteriormente, essa região é composta basicamente de pedra vulcânica, fácil de manusear (ela se desfaz com a unha!), e por ser muito erma, foi usada ao longo da história como esconderijo de diversos povos. Algumas das cidades subterrâneas dessa região datam da época dos Hititas (um povo conterrâneo dos egípcios, quem leu a Saga de Ramsés de Christian Jacq já ouviu falar deles), e diversas outras foram feitas ao longo dos séculos. As mais modernas foram feitas pelos cristãos que habitaram essa região, para servirem como esconderijo nos momentos em que foram caçados (primeiramente pelos romanos, e mais tarde pelos muçulmanos).

Uma das maiores galerias da cidade-caverna
Existem cidades subterrâneas de diversos tamanhos, que comportam diferentes quantidades de pessoas, com espaço para manter um estoque suficiente de comida para pelo menos alguns meses. E dentro dessas cidades tem de tudo, desde estábulos, até cozinha (com direito a uma chaminé que fique bem longe da entrada da cidade, claro), quartos de dormir, local para fabricação de vinho etc. tudo o que fosse indispensável para sobreviver.

Mas essa visita também não é para qualquer um, pessoas com claustrofobia e problemas cardíacos podem passar mal, pois as salas debaixo da terra são todas bem fechadas, com passagens pouco apropriadas para pessoas com mais de 1,60m. Em algumas dessas passagens até mesmo crianças precisam se abaixar, pois a idéia era manter o controle e dificultar a passagem de inimigos no caso deles descobrirem a localização dessas cidades. Até portas à la Indiana Jones foram usadas nessas cidades!

Para ter uma ideia do tamanho do corredor, eu, essa "enormidade" de pessoa, precisei me agachar assim!

As portas são grandes pedras que só podem ser movidas pelo lado de dentro
No caso da cidade que fomos visitar, ela foi descoberta recentemente (anos 90) por conta de uma galinha fujona. O fazendeiro, dono da área, que descobriu a cidade, alertou as autoridades, que confiscaram a sua terra, por conter um sítio arqueológico, e com o dinheiro que ele recebeu de indenização ele abriu a lojinha de souvenires que existe bem em frente à entrada. Não sei se ele fez um bom negócio, mas certamente a visita foi inesquecível! É realmente uma experiência única se sentir uma formiga debaixo da terra, passando por todos aqueles túneis... ah, e é frio lá embaixo! Apesar de não haver um sistema de ar condicionado, a porosidade da rocha funciona como um filtro de ar, purificando e gelando tudo! Quanto mais baixo e mais longe da entrada da caverna, mais frio!

Depois do choque térmico de sair da caverna para encontrar o calor da superfície, pegamos o nosso ônibus e fomos levados para uma loja de tapetes, outro ponto turístico que não dá para pular quando se vai à Turquia! O interessante dessas visitas é que você pelo menos aprende alguma coisa sobre o artesanato local, ao invés de apenas fazer compras.

A loja que visitamos funciona também como escola de tapeçaria, ensinando a jovens pobres (sempre mulheres) a ganharem um dinheiro extra para a sua família. E na entrada da loja tem um atelier onde um dos vendedores explica a diferença entre os tipos de nós usados na fabricação dos tapetes, a diferença entre os tipos de material utilizados, como se tinge cada tipo de material etc... tudo para você entender muito bem porque os preços variam tanto e justificar o valor cobrado na loja :-)

Jovem tecendo tapete, a velocidade com que elas tecem é incrível!
Brincadeiras à parte, a aula é realmente interessante. E a apresentação feita dos tapetes à venda, já na loja e depois de servirem um monte de tipos de bebidas (inclusive alcoólicas, o que demandam certo controle por parte do cliente que não quer gastar dinheiro), é muito bonita. Os tapetes em si são todos lindos, e aula que se tem sobre padrões, cores e tipos de tapetes falsificados é digna de um museu! Só que nesse museu você pode comprar as peças que você gostou e levar pra casa. Eu, como sou alérgica, usei do meu autocontrole para não comprar nada. Foi muito difícil, mas eu consegui.
Alguns tapetes são tão detalhistas que mais parecem quadros!
Como a compra de tapetes pode ser um processo um pouco demorado (não só pela escolha do tapete, mas também pela negociação do preço a ser pago – afinal estamos falando da Turquia), o grupo se dividiu entre aqueles que iriam comprar tapetes e aqueles que estavam com fome. Os primeiros ficaram até mais tarde na loja, enquanto os segundos foram direto para um belo restaurante que é uma réplica de um caravançarai (lugar para descanso e pernoite para as antigas caravanas). O restaurante por si só era uma atração, mas, além disso, a comida era muito boa e bem servida, apesar de não haver menu. O sistema era de entrada, prato principal e sobremesa, com algumas poucas opções de cada prato. Mas o preço era justo, e eles aceitavam cartão de crédito.

Depois de um almoço bem demorado, o que foi muito bem vindo, fomos visitar o “vale das fadas”. Lembra que eu mencionei que a Capadócia tem o solo feito de uma rocha vulcânica fácil de ser moldada? Pois bem, cada camada do solo tem uma facilidade um pouco diferente de ser moldada pelos ventos, e com isso, ao longo dos séculos, foram sendo criadas, naturalmente, diversas estruturas que se assemelham a cogumelos, daí o apelido de vale das fadas. Outros nomes mais vulgares também são usados pela população local, mas isso eu deixo para a imaginação de vocês.

Vale das Fadas
E foi durante esse passeio que eu entendi o que é o clima continental durante o verão... a Capadócia é um lugar de extremos, chega tanto a -20° no inverno quanto a 50° no verão. E eu juro que fica mais quente do que no Egito quando chega a 50°! Nunca imaginei que fosse visitar um lugar nessa temperatura... e como o clima é extremamente seco, a diferença de temperatura entre a sombra e o sol é bizarra! Na sombra chega até a ser agradável, enquanto debaixo do sol de 50° a coisa fica bem complicada. Mas como as rochas são muito porosas, qualquer caverna parece ter um ar condicionado natural, o que facilita muito a exploração do vale.

Na sombra é muito mais agradável...
Esse tipo de formação rochosa é encontrada facilmente em toda a região, e algumas chegam a ter formatos mais peculiares e recebem nomes especiais, como “3 reis magos” e o “camelo”.

O Camelo
Toda a região parece um verdadeiro queijo suíço, pois em todas as rochas tem cavernas escavadas pelo homem, mas algumas estruturas merecem uma atenção especial, como o castelo que demos uma paradinha para ver de mais perto. E, aproveitando a parada técnica, encontramos um barzinho para tomarmos um chá gelado enquanto curtíamos um calor digno do Rio de Janeiro no auge do verão. Ok, talvez fosse pior.

"O Castelo" mais parece um queijo suíço

Depois de derreter o cérebro no calor de 50°, nossa guia nos levou para conhecer outro “artesanato” típico da região: o trabalho de ouro e prata com pedras preciosas. E claro, a pedra mais famosa da Turquia: a turquesa. Lá aprendemos também a distinguir a pedra falsa da verdadeira, o único problema é que quando a cópia é boa só dá para ver se a pedra é verdadeira ou não se a quebrarmos. Não adianta muito, né? Mas a visita valeu à pena, pois a loja era realmente muito bonita e os preços realmente tentadores.

Após essa visita, o nosso grupo se dividiu novamente, pois nem todos queriam assistir ao show dos dervixes rodopiantes. Claro que eu e o Caike fomos ver os sufis dançando. A cerimônia (chamada Sema na Turquia) foi realizada num lugar muito interessante, pois era numa casa com um jeito bem simples, com uma pequena loja de souvenires no térreo, e uma escada que dava para o subsolo. O subsolo era um salão imenso e frio (por causa da rocha porosa), que mais parecia um local de encontro religioso mesmo.

No centro do salão tinha um palco redondo, onde seria realizada a sema. A cerimônia foi realizada por um grupo de 4 dervixe, mais 3 sufis que serviram apenas de músicos, e mais o mestre do grupo. Como é uma cerimônia religiosa, não podemos tirar fotos, mas isso não faz a menor diferença, pois o importante ali certamente não era a parte visual (apesar de ser muito impressionante).

A cerimônia começa com os músicos tocando uma linda música sufi, daquelas que só de ouvir você começa imediatamente a meditar, depois entra o mestre e os demais dervixes, que seguem todo um cerimonial específico, que tem um simbolismo lindíssimo (isso pode vir a ser um post no futuro...), e no final o mestre faz um sermão com base no corão ou em ensinamentos sufis (essa parte eu não entendi nada snif snif snif). A entrega dos dervixes era tão grande que dava para perceber as variações mais ínfimas na música, de forma que todos eles paravam de rodopiar ao mesmo tempo... e depois de umas duas sessões de rodopio já dava para saber quando eles iriam parar. Algo realmente mágico de se ver.

O bacana mesmo é a experiência de assistir o sema, pois se você der sorte de assistir um ritual de verdade, é algo realmente fantástico! A sensação que eu tive foi de estar dançando e meditando junto com os dervixes... saí de lá extasiada! Foi uma das coisas mais lindas e emocionantes que já vi. Mas não é todo o mundo que entra nesse clima...

Durante a cerimônia não pode tirar foto, mas depois os dervixes dão uma palhinha para os turistas registrarem
Depois da cerimônia voltamos para o nosso hotel na caverna, e fomos jantar junto com o casal paulista. Dessa vez eu e o Caike pedimos um “Celtik Kebab”, que era um prato de carne de carneiro com batata palha e iogurte, enquanto o casal pediu peixe. Para variar tudo estava divino! Apesar de confessar que eu gostei mais do prato que eu havia comido no dia anterior...

Após o jantar fomos direto dormir, pois o balão sairia absurdamente cedo no dia seguinte.

Turquia - 6° dia – Konya e Capadócia



Acordamos às 5 horas da manhã, pois precisávamos fechar as malas, tomar banho e um belo café da manhã, pois passaríamos praticamente todo o dia dentro do ônibus, que saía às 7h da manhã, na maior “perna” da nossa viagem.

Infelizmente o café da manhã não foi ao ar livre (como eu gostaria, afinal o jantar havia sido maravilhoso), e a comida era muito simples mesmo, o que era de se esperar pela estrutura do hotel. Mas o que eles tinham era gostosinho. Como fui antes do Caike para o salão, me sentei perto do Buffet, para garantir que ele me acharia com facilidade, e confesso que fiquei me divertindo enquanto esperava vendo as pessoas tentarem usar a máquina de café/chá/chocolate quente. A máquina tinha uma quantidade realmente grande de botões e duas saídas para os líquidos, então invariavelmente as pessoas erravam e perdiam parte da sua bebida ou faziam lambança.

Terminando o café fui para o ônibus, só para descobrir que tinha tanta gente indo embora no mesmo dia e na mesma hora que parte das malas do nosso grupo (incluindo as nossas) simplesmente ainda não havia chegado. Algumas pessoas ficaram muito preocupadas, achando que elas poderiam ter ido parar em outro ônibus, mas no final deu tudo certo, elas só demoraram mais a chegar mesmo.

A previsão era de ficarmos pelo menos 4 horas e meia dentro do ônibus (sem contar as duas paradas técnicas programadas) até chegar a Konya, a capital espiritual da Turquia. Na primeira parada técnica aproveitamos apenas para ir ao banheiro, pois dormimos direto, com direito a música sufi de fundo, que a nossa guia colocou justamente para a galera poder descansar mais um pouco. Na segunda parada técnica fizemos um lanche/almoço. Paramos num tipo de restaurante, mas que só serve lanchinho, e comemos um prato típico da região: bidê (se fala bidê mesmo!), conhecido também como pizza turca, mas que também lembra uma esfirra aberta. O prato tinha 3 sabores disponíveis: carne, queijo ou misto, e sem saber que a carne era apimentada pedimos o misto, o que foi um erro, pois foi difícil de comer e como eu pedi um chá que veio muito doce, a bebida não ajudou a aliviar o ardido da pimenta.

Vista do Castelo de Algodão ao caminho de Konya...
Aproveitamos novamente para ir ao banheiro, só que o lugar era tão grande que eu me perdi. O inglês tosco dos funcionários também não ajudou em nada. A única vantagem é que eu não paguei para entrar no banheiro, pois entrei pelo lado errado (desconfio que era a entrada dos funcionários) e não passei pelo controle.

Saindo do restaurante e voltando para o ônibus, nossa guia começou a nossa aula sobre o interior da Turquia e o Sufismo, tão presente e importante nessa região. O Sufismo é o lado místico do islamismo e durante muitos anos (e em alguns países até hoje) ele foi proibido por ser considerado uma heresia (no caso da Turquia acredito que ele tenha sido banido pelo Ataturk porque era considerado uma ameaça à laicidade do estado). O Sufismo tem diversas vertentes diferentes, mas na Turquia é muito associado ao poeta e mestre Rumi, que apesar de ser persa e ter nascido numa região que hoje pertence ao Tadjiquistão, ele morou a maior parte da sua vida em Konya, e foi lá que ele escreveu todas as suas obras de importância. Mevlana Jalal ad-Adin Rumi, viveu no século XIII e sua obra influenciou o mundo todo. A maior parte dos grandes pensadores que vieram depois dele leu sua obra e foi influenciado por ela de alguma forma.

Outro personagem importante no folclore dessa região é o famoso Nasrudin, que apesar de ter histórias absolutamente folclóricas, foi um personagem real. Suas anedotas são mundialmente conhecidas e ele encarna o papel do sábio tolo, que assim como o bobo da corte medieval, se utiliza de sua própria tolice para dizer a verdade que ninguém tem coragem de dizer. Mestre Nasrudin também é utilizado no sufismo, onde através de suas anedotas e histórias engraçadas são passados diversos ensinamentos (a tradição oriental sempre foi muito baseada em histórias, e os ensinamentos são passados diversas vezes de forma oral, através de histórias curtas e anedotas).

Para amenizar a chatice do ônibus, nossa guia, Tina, passou as horas depois do almoço contando histórias dele, o que tornou a viagem até Konya muito mais interessante e divertida. Mas chegando a Konya, nós fomos visitar o a escola criada por Rumi, que é mais conhecido por suas poesias, especialmente as de amor.

A escola de Rumi hoje é um museu, e peregrinos sufis e muçulmanos do mundo inteiro vão até lá para rezar no seu túmulo. Com um ambiente agradável e um lindo jardim em torno das construções, hoje se visita o seu túmulo como se fosse mesmo um museu. Seu imenso caixão de pedra, coberto por um tecido verde, fica numa grande sala, juntamente com os caixões de outros mestres e sufis proeminentes, e todos têm turbantes em cima, e o tamanho do turbante indica a importância do morto. Por ser um local de peregrinação, apesar da quantidade imensa de pessoas visitando o museu, a sala permanece em silêncio. É proibido tirar fotos (apesar de algumas pessoas tirarem mesmo assim, especialmente os chineses e japoneses), e muitos aproveitam para orar o mais perto possível de Rumi, e outros aproveitam para orar para as diversas relíquias que também estão dispostas no local.

Museu Rumi
Nos antigos quartos destinados aos sufis que viviam ou visitavam a escola, hoje há uma exposição sobre a cultura sufi, suas vestimentas, hábitos e instrumentos musicais. Ah, sim, os sufis são muito conhecidos pela sua música, e Rumi fundou uma das ordens sufis mais conhecidas do mundo: a ordem dos dervixes rodopiantes. Rumi criou um ritual onde alguns sufis tocavam música, enquanto outros entravam em estado meditativo e em êxtase rodopiando sem parar, tudo sob a tutela de um mestre, que conduz a cerimônia, chamada de Sema na Turquia. Aliás, é dessa cerimônia que deriva a dança egípcia Tanoura.

Nays - flautas de madeira muito usadas na música sufi
Rababas - uma espécie de violino antigo, também muito presentes na música Sufi
Kudum - um dos instrumentos de percussão usados pelos sufis
Infelizmente nossa visita ao museu foi muito curta, e não pude meditar perto do túmulo de Rumi. Além disso, precisei ir ao banheiro, que tinha uma fila simplesmente gigantesca, e acabei também não podendo aproveitar o jardim do museu... pelo menos na saída consegui comprar uma das obras de Rumi que é muito difícil de encontrar.

O jardim do museu
Um exemplo da sua poesia:

Seja como o sol pela graça e misericórdia
Seja como a noite para cobrir as faltas dos outros
Seja como a água corrente pela generosidade
Seja como a morte para a raiva e o ódio
Seja como a terra pela modéstia
Pareça ser aquilo que você é
Seja aquilo que você parece ser

É ou não é apaixonante?

Aproveitando o clima do museu, nossa guia, Tina, aproveitou para ler alguns dos seus poemas durante o resto da viagem para a Capadócia. Dessa vez, fizemos apenas uma parada técnica antes de ir para o nosso hotel. Nessa parada aproveitamos para lanchar, eu e o Caike pedimos uma tost (um tipo de sanduíche na chapa), e eu pedi minha bebida turca favorita: o ayran. O serviço do lugar era muito confuso, e foi complicado conseguir o nosso lanche. Quando a Tina me viu com aquele copo de iogurte na mão ela comentou que eu estava realmente parecendo uma turca, visto que a maioria dos turistas não gosta dessa bebida salgada.

Chegando na Capadócia, pela primeira vez o grupo se dividiu, pois parte do grupo havia pago o adicional para ficar no hotel da caverna, enquanto os outros ficariam num hotel comum. Por isso aqueles que ficariam nos hotéis das cavernas (um grupo de paulistas escolheu um hotel diferente daquele sugerido pela agência de viagens, apesar dos hotéis serem um do lado do outro) seguiram viagem numa van, enquanto o resto seguiu no ônibus junto com a guia e Selim, nosso motorista.

A Capadócia vista do nosso hotel
Agora vou dizer uma coisa: valeu cada centavo o extra que pagamos pelo hotel na caverna. É o hotel mais chique que já fiquei ou vi ao vivo. Era tão chique que fomos recebidos com uma linda bebida gelada feita com especiariais! O hotel em si era uma atração! Encravado numa montanha, com absolutamente todos os cômodos feitos de pedra, o hotel era um luxo só! E não só na construção e na vista simplesmente divina, mas também nos detalhes, tudo dentro do hotel era lindo. Ele era bem decorado, o serviço impecável, e o quarto... nossa! O que era aquilo! O banheiro era gigantesco e tinha uma jacuzzi imensa para duas pessoas e um chuveiro daqueles bem modernos, com jatos de água saindo das paredes.

A recepção do nosso hotel
Fomos recebidos com uma bebida gelada a base de especiarias que era uma delícia!
A decoração do hotel era uma atração à parte, e atrás do hotel vemos as antigas cavernas usadas por séculos pelos moradores da região
Como ainda tínhamos que jantar antes do show da dança que assistiríamos a noite, tomamos banho no chuveiro modernoso, o que foi uma experiência muito interessante, pois ajustar os jatos para eles baterem nos locais certos o não na sua cara não é uma tarefa tão simples assim. E como eu e o Caike temos alturas muito diferentes, cada um precisou ajustar o chuveiro para si.

Apesar de termos combinado com outras pessoas que estavam na nossa excursão para jantarmos juntos, quando chegamos no local combinado não havia ninguém, e como na espécie de barzinho aberto estava muito quente e ventava muito, resolvemos jantar no restaurante do hotel. O cardápio era extremamente variado e não era proibitivo, apesar do restaurante ser absurdamente chique. Eu pedi um kebab (todo prato com carne se chama kebab na Turquia) ao molho de iogurte com ervas e purê de berinjela, que estava tão divino que nem dá para descrever. O Caike pediu um prato típico turco: o kebab de pote. Esse prato tem uma apresentação realmente única: o kebab é cozido dentro de um pote de barro, que precisa ser quebrado para se servir da carne feita no molho de tomate e especiarias. É realmente algo bonito se ver, apesar de eu ter preferido o sabor do meu prato.

Nosso jantar super chique! Repare no pote de barro no prato do Caike
Terminando o jantar, encontramos os demais turistas para pegar o nosso transfer para o show de danças típicas no Harmandali. O transfer era uma van muito modernosa, cheia de luzes coloridas por dentro e o interior imitava madeira. A idéia era ser chique, mas o resultado não era bem esse.
Euzinha na entrada do Harmandali
Eu fiquei super feliz por ter conseguido ir nesse show, pois a estrela da noite não é ninguém menos do que a nossa carioquíssima Clara Sussekind! Eu já conhecia o trabalho da Clara há muitos anos e sempre fui fã, mas desde que ela foi para a Turquia eu só pude vê-la uma vez, e para variar ela havia arrasado no show. Como eu poderia ir à Capadócia e não ver a mais famosa bailarina de dança do ventre atualmente na Turquia??? Até a nossa guia (que a conhece pessoalmente) contou que os turcos vão à Capadócia só para assisti-la. E agora ela vai fazer o maior sucesso por aqui também por conta da nova novela da Globo, onde ela aparece dançando...

Enfim, chegamos ao Harmandali, que é na verdade um restaurante com show de danças. O salão onde acontece o show é uma grande arena que lembra um ouriço, pois ao redor da arena tem corredores amplos com níveis onde eles colocam as mesas para as pessoas assistirem o espetáculo. Nesse restaurante se apresentam a Clara e uma companhia de danças folclóricas turcas. E nós ficamos bem de frente para a entrada! O lugar perfeito para ver o show!

Durante o show, os espectadores são servidos com pratos de frutas e alguns petiscos, para serem consumidos à vontade, além de bebidas de todo tipo, tudo à vontade também (incluindo bebidas alcoólicas), eu aproveitei para tomar Raki, um tipo de cachaça feita de anis, conhecida no mundo árabe como arak e na Grécia como uzo.

A nossa mesa ainda desfalcada do pessoal que não ficou no hotel da caverna
A primeira dança foi uma dança da companhia de danças folclóricas, e era uma dança típica de casamento (ou assim pareceu rsrsrsrs), teve muito interação com o público, pois foi escolhida uma mulher da platéia para ser a “noiva” e então ela precisava escolher entre homens (também da platéia) qual seria o “noivo”. A brincadeira teve direito a fazer o público dançar em roda e tudo o mais, os turcos sabem fazer um show!

A dança de casamento
Antes da interação com o público rolou algo parecido com dabke, mas era mais suave...
Depois veio uma apresentação de uma dança de roda, de homens e mulheres, que eu classificaria como dabke turco, pois é feita em linha e a pessoa que está na ponta vai puxando os passos para os demais seguirem segurando um lenço. No final novamente o público foi chamado a participar da roda, e eu fui dançar cheia de raki nas idéia... e a dança turca, assim como o dabke árabe, exige muito das pernas, com muitos agachamentos... novamente foi muito divertido. Em seguida entrou a nossa querida Clara numa tanoura... ah, que coisa linda que é vê-la dançando e rodopiando... fiz questão de filmar!

Esse sim seria o dabke turco, com muito trabalho de pernas e marcação de ritmo!



Logo depois entraram novamente as mulheres do grupo de dança folclórica, interpretando a dança cigana turca! Gente, eu não curto dança cigana, mas amo a dança cigana turca de paixão! Que coisa linda e forte! Adoro os seus movimentos de força pélvicos, a forma como elas batem no próprio corpo e suas expressões! E essa apresentação foi longa, pois depois entraram os homens, fazendo uma dança cigana mista, seguida da representação de um duelo entre ciganos! Eu mencionei que os turcos sabem fazer um bom espetáculo?

Dança cigana turca
Adorei o chapéu cigano dos bailarinos
Depois de toda a emoção, veio um pequeno intervalo, com direito a salsa de música ambiente, e um casal jovem e muito sem noção resolveu se exibir... coisa mais desnecessária... a menina estava um pouco sem graça, mas o rapaz queria mostrar como ele era bom e podia passar a mão na bunda da menina, que estava com uma saia curta digna de baile funk... o grupo deles aplaudiu muito, mas o resto dos espectadores estava meio sem graça. Quando eles se sentaram, um casal de senhores (de uns 60 anos) resolveu mostrar o que é dança de salão de verdade... e gente, que diferença! Tão elegantes... era realmente uma dama e um cavalheiro dançando... lindos de morrer! Foram muito mais aplaudidos.

Depois do intervalo, o show recomeçou com uma apresentação do grupo de dança folclórica, uma apresentação muito feia e ruinzinha de dança do ventre (as bailarinas desse grupo não eram muito boas... sabe bailarina que “não entra em cena”? Fica repetindo mecanicamente a coreografia pensando em outra coisa? Agora acrescente uma técnica visivelmente ruim). E logo depois delas entra novamente a Clara! Não teve para ninguém! Nossa brasileira arrasou com uma linda dança dos 7 véus, seguida de espada, solo de derbake e dança cigana! Clarinha ficou 20 minutos em cena, e saiu com o público pedindo mais!

Uma das coisas mais estranhas que eu já vi... o shimmie delas era de pé! Sério, ao invés de usar os joelhos ou quadril elas usavam mini saltinho para fazer shimmie... algo bem africano na verdade...





Em seguida voltaram as mulheres do grupo de dança folclórica com uma dança muito diferente, todas vestidas de branco e algo que parecia taças e pratos com velas nas mãos. Depois vieram os homens do grupo, para fazer o fechamento do show, e que despedida sensacional que eles fizeram! Foi o momento em que cada bailarino desafiava o outro a fazer algo ainda mais complicado! Esses homens têm pernas, meu deus! Em seguida abriu-se uma espécie de pista de dança, e adivinha o que tocou? Michel Telo!!!! E Conga!!! Eu não sabia se ria, chorava ou dançava.

Dança esquisita...
Resolvi que era melhor correr atrás da Clarinha para bater um papo rápido e tirar pelo menos uma foto com ela!

Eu e Clara Sussekind! Não é uma fofa?
O resto do pessoal do nosso hotel também não ficou muito animado com a pista, e logo estávamos todos de volta no transfer. Chegando ao hotel, e ainda animados com o show da noite, fomos para o tal barzinho ao ar livre do hotel para tomar um çay (chá), quando o sono bateu de verdade, fomos todos dormir... o dia seguinte também prometia!